NE IPA: Você conhece esse sub-estilo?


No dia 5 de maio será lançada a DOGMA RIZOMA, uma double IPA com 8,3% ABV que será vendida em latas de 473 ml, formato inédito para a cervejaria. Feita com lúpulos Citra e Mosaic, que são adicionados apenas no final da fervura, essa IPA promete ter um amargor muito mais limpo e de melhor qualidade, com uma boa base de maltes, de cor alaranjada e seca no final. Será uma cerveja sazonal e vai ser lançada juntamente com outras cervejas das cervejarias JBEER, URBANA, PERRO LIBRE e DÁDIVA que envasaram em lata suas criações em conjunto na última semana de Abril.


Tudo bem, mais um lançamento de IPA...mas, e daí!?

Na verdade, a RIZOMA não se trata de ‘apenas mais uma IPA’. Ela pode ser considerada como uma representante (talvez a primeira no Brasil) do sub-estilo “NE IPA”, que está bastante em voga nos EUA.

NE vem de ‘New England”, que é uma região extra oficial que inclui estados americanos tais como Maine, Massachussets e Vermont -esse, terra da cervejaria The Alchemist- onde esse sub-estilo nasceu. Também chamadas de “Vermont IPA”, as NE IPA vieram ganhando imensa força no último ano nos EUA. Uma das cervejas responsáveis pelo hype é a “The Alchesmit Heady Topper”, que é considerada uma das melhores cervejas do mundo atualmente, nota 100 no RateBeer.

Tamanho é o hype em torno da Heady Topper que ela hoje em dia frequenta toda sorte de sites de leilão e malas amigas (pessoas que trazem a cerveja dos EUA para vender). Quando encontrada para compra, seus preços no Brasil passam dos R$ 130.00 pela lata de 473 ml- mais caro do que a ‘média’ de preços da consagrada Westvleteren XII, que pode ser encontrada por cerca de R$ 100 também advinda de malas amigas e disponível em sites de leilão on-line. A cerveja é feita desde 2003, mas foi só em 2011 que começou a ser enlatada que o hype foi mais disseminado. Atualmente a Alchemist produz 180 barris da sua Heady Topper semanalmente (barril é uma medida americana para bebidas, e equivale a cerca 117 litros) em 12 tanques de fermentação com capacidade de 1800 litros cada, para tentar dar conta da demanda.

Isso sim é mala amiga!

Mas e esse sub-estilo, o que agrega à já batida “American-IPA-nossa-de-cada-dia”? Basicamente, as NE IPA são caracterizadas por tender mais para suculência (juicy) e notas frutadas dos lúpulos, sem amargor assertivo/pungente de uma American IPA comum- o amargor nas NE é apenas um mero coadjuvante, deixando o papel principal para o corpo da cerveja. Um outro elemento marcante é a turbidez da cerveja: geralmente, as NE são opacas, revelando o ‘haze’ que é causado pela filtragem (ou ausência desta) mais gentil, que não elimina todos sedimentos- até mesmo resquício de leveduras podem ser encontradas no fundo das latas, o que é bastante incomum em American IPAS, que costumam ser translúcidas e brilhantes. Contudo, a turbidez das New England IPAs é basicamente causada pelo processo de dry hoping, não muito pelo fermento.

Por outro lado, ainda há bastante controvérsias e não há consenso se NE IPA pode ser considerado mesmo um estilo/ sub-estilo como uma Black IPA, por exemplo. Os próprios cervejeiros criadores das cervejas NE IPA ditas benchmark (referência) não creem ser um ‘estilo’, sendo apenas ‘uma american IPA’, ou ainda, quiçá apenas um modismo passageiro. O BJCP e Brewers Association ainda não possuem NE IPA em suas diretrizes.



O “Alquimista”, John Kimmich (cervejeiro da Alchemist, pai da Heady Topper) não acredita ter criado uma referência para um estilo, e acha que seria arrogante da sua parte apontar a si mesmo como criador de um estilo. Modéstia pouca é bobagem.

As NE IPA vem ganhando tanto espaço nos EUA que já ultrapassaram as fronteiras da região de New England e atualmente estão sendo feitas também em cervejarias do Colorado e Oregon. Lúpulos neo-zeolandeses como Galaxy, Nelson Sauvin, e novos varietais americanos como Azacca, Equinox, and El Dorado também tem sido utilizados para obter NE IPAs cada vez mais suculentas e turvas. Até mesmo frutas tem sido utilizadas.

Na tentativa de reproduzir o hype da Heady Topper, há relatos de cervejeiros tentando pegar o resquício de levedura no fundo de latas de HEADY TOPPER e cultivando-as para uso posterior em suas próprias receitas. Porém, o cervejeiro da Alchemist conta que que as leveduras na lata geralmente são leveduras mais fracas, que não servem para formar uma nova cultura para posterior brassagem. Ainda, a turbidez na verdade não vem propriamente da presença de fermento, mas é causada pelo dry hopping, como já mencionado.


LANÇAMENTO OFICIAL

O lançamento da RIZOMA acontece no próximo dia 5 de maio, simultaneamente às 19h, em 15 bares do Estado de São Paulo, sendo eles Aconchego Carioca, Água Benta Lupulada, Ambar, Beer Rock Club, Capitão Barley, Cateto Pinheiros, Cerveja Artesanal São Paulo, Choperia São Paulo,Empório Alto dos Pinheiros, La Fraternité e Let’s Beer na capital paulista, The Beer Market, em Jundiaí, Cervejoteca, em Campinas, Biergarten, em Ribeirão Preto, e Cervejoteca, em Sorocaba.

O Rio de Janeiro, ficou de fora do lançamento- nenhum bar participará, mas a distribuidora Pilot Beer promete disponibilizar a cerveja em breve.

Ao que tudo indica, a RIZOMA tem tudo para ser a Heady Topper brasileira, já que hype sempre foi característica dos lançamentos da DOGMA, desde à época de STP e lançamento da Cafuza. Some isso à uma quantidade limitada de latas (foi divulgado que são 600 disponíveis para SP), e pronto, terá beer hunters e hop heads histéricos como adolescentes fãs de boy band!

Parabéns à DOGMA por nos brindar com mais um lançamento de vanguarda e muito relevante.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Garrafinhazinhas Cracudinhas

Cerveja artesanal com conservantes. Pode isso, Arnaldo?

As boas do fim de semana: duas feiras de food trucks, com cerveja!